quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Estranhos na noite


Estranhos na noite, assim o eram. Assim o deixaram de ser depois de uma noite de longa conversa e muita identificação. Viraram amigos, uma noite em claro seguida de uma ida a praia somente pra molhar os pés, somente para ver o mar.
Ele sabia que ela era bem mais nova que ele, mas parecia ter sofrido - ou dava atenção demasiadamente a sua dor – anos luz daquilo que tudo que ele um dia sofrera.
Ele tinha acabado de sair de um quase casamento, cheio de frustrações, onde sua ex não sabia acompanhar seu modo de vida. Mesmo tendo sofrido um bocado, sabia no fundo que tinha valido a pena, por ter aprendido tanto. E tinha os pés no chão. Amava racionalmente, que para ele era mais seguro. Quando menos esperavam, já estavam se vendo todos os dias, e decidiram, nenhum dos dois sabem como, que iriam ficar juntos. Iriam se ajudar, se apaixonar, ser cúmplices, se amarem. Decidiram mergulhar nessa piscina perigosa e mórbida que é a paixão. Entregaram-se, fizeram planos, escolheram os nomes dos filhos, dividiram mágoas e rancores do dia a dia, e assim conseguiram viver três meses de puro sonho.
Mas a realidade e a fraqueza bateram a porta. Ela sempre em dúvida quanto aos seus amores já terminados, mas contínuos em sua mente. Ele com suas dúvidas sobre o futuro: será realmente necessário se entregar e esquecer a razão? Às vezes se pegava muito calculista, muito artificial, muito pé no chão. E em outras vezes, se pegava admirando aquele sorriso adolescente que enraizava cada vez mais em seu coração. Estava perdido, disso já tinha certeza, mas sentia felicidade em não poder encontrar o mapa da razão. Ser humano vez por outra, desarmar a armadura era bom. Apesar dos perigos.
Ela se via também completamente perdida, nunca tinha encontrado alguém tão sério com suas palavras, com seus sentimentos e isso assustava. Bebia e dizia “eu te amo” com os mesmo sorrisos, com os olhos de ressaca que tanto assustava ele. Eram oito ou oitenta em meio ao infinito que é a vida.
As famílias estavam felizes, tanto por ele, quanto por ela, a dele dizia que ela era uma pessoa doce, carinhosa, amável. A dela dizia que ele era pra casar, alguém de juízo. Colocava-a em seus trilhos. Mas quem queria uma placa de segurança? Quem queria um guia certo? Ele ou ela? Os dois? Ou nenhum dos dois.
Entre bons sentimentos perdidos, entre tanta felicidade meia verdade, o trivial caiu no cotidiano. Já não existe tanta graça nas piadas, nem nos dias recheados de sol e brisa. Por que tanta felicidade? Será que ela merece isso tudo? Será que ele quer ser feliz o tempo todo? Aonde se encaixam as músicas de dor de cotovelo? Nada mais de encaixa, a não ser uma perdida alusão de confiança. Afinal, nenhum filme que se preze termina com um final feliz. Se terminou com um final feliz é por que tem algo de errado, tudo mastigado perde a graça, bom é o que inquieta e questiona. Quem disse que grandes amores tem que terminar com um final feliz?
Perguntas movem o mundo, mas não as paixões. E de estranhos tornaram-se namorados, apaixonados e sim, decidiram terminar o amor possível, a vida planejada e sonhada. Largaram pra trás as possíveis chances de um grande amor, de uma grande família.
E o tempo passou, tornaram-se amigos. Mas como a vida dá voltas, um dia se esbarraram num bar e soltaram um breve e frio “oi”, a vida continuou e voltaram a ser estranhos na noite.
O amor nem sempre deve ser perfeito. Senão não seria amor.

Ao som de Strangers In The Night - Frank Sinatra

2 comentários:

  1. Aimeldels, chorei!
    Estranhos da noite, tenho um bucadooo!

    " o amor nem sempre dever ser perfeito. Se não, não seria amor!"

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  2. Perguntas movem o mundo, mas não as paixões.

    apesar de discordar, eu amei a frase.

    blogsempre! :)

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